sábado, 4 de outubro de 2008

Fall and Rise

Quando olhei bem pros olhos meus
E aquele olhar de dor se fez presente
Dias e dias me vieram à tona
Tantos amores, tantos pesares
A vida como uma estrada longa, mas nunca longínqua
O passado nunca é tão distante que não se possa lembrar
Que não se possa sentir vivo
Na pele, na carne, queimando.
A existência dói, reabre velhas feridas
O ar sufoca, torna seco
As lágrimas molham o solo, mas nada brota
A fúria passa, a cólera se perde
Difusa, entre a inércia, o cansaço, o sono
E o nojo do próprio desespero.
Não, não é assim que as coisas deveriam retornar
Elas deveriam simplesmente se misturar à poeira
E serem levadas pelo vento.
O cansaço entorpece, engana os sentidos
A respiração enfraquece, morre-se um pouco
Um abraço, um beijo
Um raio de luz de olhos amados
Talvez só isso, só seu suspiro pra me devolver o controle
Pra me devolver o tato, sentir algo de bom.
Sei que nada será como antes amanhã
Eu sei que eu vou sobreviver
Eu sei que vai passar
Depois virão outros
Outros amores, outros pesares.
Vou buscar um mundo novo, vida nova
Abrir meu peito ao vento, me libertar
Do que me resta não são só sobras.
As diferenças não podem ser maiores que os afetos
A vida é maior que isso
A vida é maior que a gente.
É preciso enlouquecer, é preciso fazer escândalo
É preciso romper, romper sempre
Romper a aurora junto com o sol...
Porque amanhã vai ser outro dia.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

A Minha Única Vontade é Morrer

A minha única vontade é morrer
Em paz
Redimida
Exaurida de qualquer culpa
Que o meu templo eterno seja sagrado
Seja puro
Que minha memória seja limpa
E que não haja pecados que me condenem

A minha única vontade é morrer
Liberta
Humana
Coberta do manto sagrado dos mortais
Banhada de erros, de acertos
Sem nenhum arrependimento
Que em vossa memória eu seja boa

A minha única vontade é morrer
Docemente
Com o dever cumprido
De ter vivido como humana
De ter errado como humana
De ter feito bem as pessoas
E que na memória eu permaneça viva

A minha única vontade é morrer
Naturalmente
Como todos que nascem
Dignamente
E que em minha família eu vire retrato
Fotografia cálida
Um nome que resiste, que existe ainda

A minha única vontade é morrer
Por ter vivido por orgulho
Por ter vivido com gosto
E por ter acrescentado-lhes algo em suas vidas

A minha única vontade é morrer
Em paz
Redimida
Exaurida de qualquer culpa






Perdoem-me.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Keep Going

Respire, respire do ar
As coisas que você finge não se importar
Não deixe que o julgamento te atrapalhe de agir
Olhe em volta, não há ninguém aqui
Agora você corre
Atravessa mundos
Nada é de seu domínio, suas mãos estão vazias
Corra, mas encare de frente
não fuja dos pensamentos que vêm te atormentar

Vai, volte quando quizer
Quando os seus sonhos forem inocentes outra vez
Esse é o preço que se paga por ser doce assim
O mundo diz que você mente, eles são falsos
Mas quando você encontrar seu caminho
Se orgulhe de que o trilhou sozinho
E o que não te matou só fortaleceu
Mesmo que aos poucos, dolorosamente.

Brinque, você deve se lembrar
De alguma canção boba pra te animar
Esvazie sua cabeça dessas idéias pequenas
Olhe em volta, o mundo é imenso
Olhe as marcas que você deixou
Não lembre da dor, esta já passou
E se um dia se sentir perdida
Feche os olhos, você caminhará
Porque você é o seu destino.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Bleed in the Fire

Ontem ele me pediu pra ficar
mas ao amanhecer pegou suas malas e partiu
Porque que a gente nunca ouve o que dizemos para os outros?
Por medo de sermos menores?

Minha voz enfraquece quando eu penso
o quanto dói passar por cima de tudo
Ás vezes parece ser mais fácil esquecer
dar atenção ao que não atinge você
mas não, não te alivia nada
você as guarda e elas só tendem a crescer.

Ele só queria que enxugassem sua lágrimas
mas você as mistura com as suas e pede que ele as adore
Como pode se deixar levar pelas coisas que você mesma tentou esquecer?
Por medo de sentir-se falsa?

Se nada é estático e tudo perece
porque será que é tão difícil deixá-la partir?
E se fosse verdade tudo o que você diz
porque não existiria um sorriso nos seus olhos?

Tente criar algo além do que vê
Tente voar para o mais alto que você possa
e, se puder, ultrapasse o limite
Quem sabe assim você corta as amarras que o prende
Quem sabe assim você ache um lugar seguro
para olhar diretamente pros seus olhos sem fingir não se assustar

Respire, sangre à luz do fogo
Não é fácil se entregar a si próprio
Tente encontrar algo no fundo do mar
A sua alma, essa água profunda e turva que você se afoga

Aprenda a nadar

Aprenda a nadar em suas lágrimas

Aprenda a nadar

Aprenda a nadar
agora,

Sobreviva.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

In Grace

Esse é o meu beijo de boa noite
pra você se lembrar do meu gosto quando amanhecer
E se durante a noite sonhos te pertubarem
e você precisar chamar por alguém
Que você se lembre do meu nome

Esse é o nosso beijo de redenção
que nos descortinemos diante do nossso coração
E nos conheçamos a nós mesmos
Para podermos nos entregar sem medo

E quando precisarmos dos nossos sonhos
que seja fácil de nos lembrar
de encontrar a verdade num mundo de mentiras
E que Deus esteja por nós
e o mundo não nos condene
pois seremos a nossa própria defesa

Esse é o nosso abraço de encontro
Não haverá despedida senão quizermos
e que a noite seja apenas mais densa,
Que não haja trevas, que não haja medo

E se eu precisar chamar por teu nome
será fácil de achá-lo entre as paredes da minha memória
E correndo o tempo possamos sempre nos encontrar
entre sangue e as correntes do mar
poderemos sempre nos encontrar

domingo, 14 de setembro de 2008

I won't sympathize anymore.

"This time
I'm gonna keep me all to myself
And he makes me want to hand myself over" (Bjork)
********

Esperando uma ligação
Um sinal de fumaça para despertar meu coração
Não me parece verdade
Os meus olhos não querem enxergar
Eu pensei que agora tudo seria diferente
Que haveria algo de bom para mim
Um desejo secreto, um desejo secreto a se realizar.
Ele me ofereceu seu coração e seus olhos para que eu os cuidasse
E agora que eu já os amo
Ele resolve tomar tudo de volta.
E esse senso de realidade
A ofensa de ser abandonada
Essa poesia mórbida
Que me faz pensar que eu não presto pra nada.

Mais do que suas palavras pra me iludir
Quero suas ações para me avivar a alma
Acorde-me, mostre que eu mereço
Que você merece o meu amor
Que não será em vão.
E esse senso de realidade
Que me bate por me sentir rejeitada
Essa poesia mórbida
Que me faz sentir como se eu não fosse nada.
E não é justo que você não se importe
Não é justo que você me trate assim
Eu me sinto caindo no meu próprio sonho.
Eu me doei inteira para você e você não se importa de me magoar
Como você pode ser
Tão insensível
Assim?

Eu te amei, você não viu
Eu estava lá e você permaneceu parado
Eu te peguei pela mão pra te fazer voltar a andar pelo caminho certo
E você desistiu e me fez ser nada
Mas isso só vai me deixar maior
Eu sou maior que você porque eu te amo.
Eu amo os seus olhos, meu querido
Mas você não está aqui para cuidar dos meus.
Esse é o senso de realidade que eu quero te mostrar
Que eu sofro por você, me sinto abandonada por você
É uma poesia mórbida, e eu quero que você a sinta
Porque é você
Que não presta
Pra nada.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

A CONSCIÊNCIA DO MISTÉRIO DA CONSCIÊNCIA

Nota: Bom, estou num momento diferente da minha vida. Onde o lirismo tornou formas mais enigmáticas de se transformar em palavras. Realmente é um momento muito novo e muito agradável este que eu estou passando. Começando a organizar as coisas que estão na minha cabeça. Por isso que eu escrevi este texto, meio sem começo, sem fim, um teorema desorganizado da minha cabeça e que eu preferi deixar assim mesmo, fica mais natural. Espero que gostem.

******

A consciência é mesmo uma dádiva. Mas nunca ousei tomar conhecimento, ou pelo menos, me conscientizar dela. Ter consciência de ser consciente para mim era me enrolar na arrogância. Só agora percebo que isso na verdade facilita as coisas.

Tudo no mundo é secreto, é mistério, e eu me alimento desvendando-o. Pois bem, se tudo na vida é mistério, também tudo tem um propósito. Saber qual, ou como é o que nos leva a caminhar. E a caminhada é extraordinária! Caminhar para o nada, para onde a percepção do olfato ou da visão resolver me guiar. Por Deus que eu não tenho propósito nem nessas palavras que eu escrevo. Vou pelo acaso e o acaso que se vire e me coloque à frente de algo! Pois, senão, de que adiantaria tudo isso?

Tudo é fácil e difícil, comum e extraordinário na mesma proporção. O resto é metodologia imbecil que a gente cria tentando facilitar as coisas. Deus me livre das coisas fáceis! Acostumei-me tanto com o complexo, com o doloroso, com o quase absurdo, que as coisas fáceis ficaram um pouco embarreiradas pra mim. Eu formulei o infinito e o coloquei dentro de mim¹. Pense você que não há nada de excepcional em nada que eu diga, faça, ou seja. E não há mesmo. Mas a minha viajem interna é tão grande que eu acabei sendo engolida por mim mesma. Tudo é metafísico e grande na minha cabeça. É a história das "pequenas idéias, grandes bocas", às vezes um tijolo pode construir uma casa e ainda fazer o telhado. Como isso é possível? Mistério. O que não significa que não tenha explicação. Eu, sinceramente, não sinto necessidades nenhuma de encontrá-la, mas se você quiser uma, trate de inventá-la.

Pensar em pensar. Quem disse que quem pensa demais acaba por fazer nada é burro por não saber utilizar seus pensamentos. Pensar é construir. É como fazer um bolo, e pode ser até mais gostoso, a diferença é que por mais que queiramos compartilhar seu gosto, como isto que eu estou tentando fazer ao escrever, é impossível outra pessoa saborear do mesmo jeito. Coisa interessantíssima essa de uma maçã para mim ser uma laranja para o outro, a diferença é realmente uma coisa fundamental, a individualidade. Não que eu não goste das massas, das coisas em conjunto, mas como dizem, quando todos pensam iguais é porque ninguém está pensando nada. Então pensemos diferente, vamos criar consciência das diferenças e vamos multiplicar tudo, fazer a vida, tudo, evoluir em progressão geométrica.

O que eu quero dizer com tudo isso? Nada, apenas o que está escrito, o resto eu deixo a cargo de quem lê. O exercício diário que eu me forço a fazer: Fazer pensar. Um pouco grandioso demais para essa mente tão limitada, cheia de amarras morais, mas vale à tentativa. Sentido da vida? Não, a questão não é essa. Pode-se andar para trás ou para frente se for de bom grado, mas a questão não é o sentido, é a FORMA.

_________
¹ COBAIN, Kurt. Oh me. Seattle, 1994.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Tão vulnerável, Tão desarmada

Quando você se vê distante de si mesma e não sabe porquê
E as coisas parecem todas estar no seu devido lugar
Mas te falta um pedaço
e esse pedaço parece tudo
E mesmo sendo bonitas as coisas parecem se brilho


E o mundo gira tão devagar que você nem sente
E você se sente uma tola por estar descontente
De repente um raio cai
Duas palavras e um cometa
que você não esperava pára perto de você
E você se deixa levar
e quer que ele te leve
porque agora tudo brilha
e você sente borboletas no estômago


Ele é tudo que você queria
E é tudo que você precisa
E você sente que caiu num rio claro
e você quer ficar lá pra sempre
Sentir cada cheiro, cada cor
e se deixa levar pela correnteza
Porque com ele você está segura
E você vai...
Você vai...
You're falling down
Falling down...


Vocês completam um ao outro
Peixe água, leão fogo
E tão rápido que o tempo passa
A paixão queima o peito e te arrepia por dentro
Porque você esperou a vida inteira, sem saber, para tê-lo
Você pode ser por inteira tudo o que é sem ter medo
You're falling down
Falling down
You're falling down
Falling down
Falling down in love...

terça-feira, 29 de julho de 2008

Aline 2.0





Sim, fiz vinte anos!



Vinte anos, pra mim é muito pouco dado as coisas que eu vivi.


Amores que se tornaram eternos; Paixões ardorosas, inesquecíveis; Amigos pra vida toda, irmãos. Gente, muita gente, que faz da vida uma coisa mais que maravilhosa, e de mim, uma pessoa completa.



Fiz festa, cortei bolo, fiz um pedido. Recebri abraços ternos, amor.



Hoje me sinto realizada. Presenteada pela vida com amigos e situações inesquecíveis.

A vida é uma festa!!!



Obrigada amigos, obrigada família, obrigada Deus!!!



A vida é bela!!!

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Lupicínio

*Ao criador da dor de cotovelo.

Ó coração apaixonado
Tanta lamúria, tanto desespero
Misturados à lembrança
Das noites de frio, dos dias de sol
Ó peito iluminado
Pela chama que derrete o gelo
Que colore os olhos, marca de desprezo
Que no meu seio bate sem parar

Dor divinamnte clara
Sombra de ontem, um futuro que adormece
Nas escolhas que não fiz
Água serena e turva
Molha o rosto, a palma
Não consigo fugir

Mente, ó serena, ó doce senhora
De mim mesma, de tanto canto
Tanta beleza que esse vazio cria
Em que corre a vida pra me conformar
Chora baixo, me acalente
Os olhos não sabem o que vêem
Mas o coração sente
Esta tristeza, tanto sofrimento
O tormento que a solidão traz

Olha, sei que até a lua ás vezes me desmente
Quando sua luz
Nem fria, nem quente
Finge que é forte e nunca morrerá

segunda-feira, 14 de julho de 2008

MÁGICA


Uma vez o som do vento frio enquanto o dia clareia
Uma voz ecoa de dentro de mim
Um brilho-luz, a mágica
Da minha cabeça voam idéias
Me fazem sentir o mundo pulsante
Tudo junto no acaso, música se forma
Em forma de lágrimas a chuva cai

Como num toque de mágica
O mundo se colore
Ruas de preto e branco desabrocham feito orquídeas
Uma borboleta bate suas asas e o mundo muda
Um cálice de vinhos se quebra e nasce o sol

Uma vez o chão que se abriu
Diamantes expostos, abertos
Dissipam nuvens negras do céu
E na cidade gente brotando
Olhares brilhantes olhando
E a lua se esconde e as sombras todas morrem
O movimento cada vez mais veloz dos anos que um dia foram futuro
E que a realidade da vida distrói
Constrói

Como num toque de mágica
O mundo se colore
Ruas de preto e branco desabrocham feito orquídeas
Uma borboleta bate suas asas e o mundo muda
Um cálice de vinho se quebra e nasce o sol


quinta-feira, 3 de julho de 2008

Meu Mito Minotauro

Há muito tempo encontrei a saída do labirinto
Estive perdida por muitos anos
Sempre procurando a saída
Sempre farejando os pedaços de pão que deixei pelo caminho quando resolvi mergulhar no desconhecido
Procurava pelo minotauro
Em seus rastros encontrava perfumes, rosas, murchas, pedras brilhantes
A infinita curiosidade não me deixava andar em
linha
Em cada esquina descobria folhas novas
Novos ventos, novos pensamentos
A imaginação fluía em meu sonho desperto
A cada pegada de meu minotauro eu me apaixonava
Um ser estranho, mistério, um misto de monstro e mago
Por ele procurava carregando questionários
Por anos a fio fui desvendando a vida
O amor não tinha nome nem rosto
Era mito, era místico
Perdi-me muitas vezes por rotas já conhecidas
A vida é assim, a gente vive e ainda se surpreende nas ruas já caminhadas
Surpreende-se com o sol que é sempre o mesmo
Nas cartas do tarô o aviso da minha vitória
- sairia de meu labirinto –
Mas encontraria meu mito minotauro?
A roda da fortuna ameaçava girar e me derrubar
Mas não me apeguei a este detalhe
E ali na beira do abismo, já fora de meu labirinto, meus olhos me mostravam que as paredes outrora intransponíveis eram feitas de névoa
E que meu erro foi procurar um fim para o meu começo
Sentada no portão daquele labirinto insólito percebi os rastros de meu mistério tão amado, tão procurado
Saíra antes de mim? Estavas também perdido?
E numa poça d’água feita de uma chuva de lágrimas de anjos vejo minha face no reflexo ensolarado
E descubro que a bela não passava de fera
E desfeito seu castelo de confusões, de mistério
O mito caminha sem propósito nas ruas de São Paulo.
imagem: PICASSO, Pablo, Minotauro

domingo, 29 de junho de 2008

Qualquer canto é melhor que a vida de qualquer pessoa*

Vá e leve contigo tuas cinzas, teus beijos
Vá e leve as coisas que fizemos juntos
Ah, é como o céu e o sol que brilha
Mesmo quando não quero, canto.

Essas histórias são pra sempre minhas
Essas dores, esses amores são meus
Eu sei que é difícil descrever sentimentos
Às vezes é só o som da minha voz que ecoa.

Vá embora de uma vez
Não ouse deixar recado de despedida
Eu falei demais
Devia dar menos de mim a você
Talvez assim você me escutasse.

A chama do amor me chama ao fundo do poço
O doce sabor da derrota amarga a minha boca
É estranho, mas me sinto bem assim
Tão só, tão só, tão só...
A escuridão, a gota d’água
Dissolve o sal das lágrimas que caem
Perde o gosto te perder
E dor às vezes parece linda
Mas prefiro lutar.

Às vezes é só o som da minha voz que ecoa
Longe, essas histórias que são pra sempre minhas
Vão levar o meu canto a todos os cantos.


* Como nossos pais, Belchior.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Nuvens terrenas

Você sabe quem eu sou?
Eu sou a poesia
E toda poesia é dor misturada a rebeldia
A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional
A poesia é um crime passional
que se reflete no mundo,
na vida.

Sou a arte pintada pra quem não enxerga
A nona sinfonia para surdos
Sou a morte, sou as mazelas dos fracos
de quem tem medo do mundo,
da vida.

Quer saber quem eu sou?
Sou a loucura, prazer em conhecer
Um anjo cheio de ternura que caiu das nuvens
por querer saber do mundo,
da vida,
E se a terra também é eterna.

Sou a imaginação apegada às coisas terrenas
Sou o lorde da redenção para aqueles que fogem da guerra
Sou a beleza das suas lágrimas
E suas lágrimas é libertação
Pise nas nuvens e veja como são firmes
Esse é o milagre de olhar com o coração
O chão é o inferno
O chão é o perdão
O chão é o abismo da crucificação.
O chão é desgraça
O chão é o alucinógeno que me traz inspiração
Eu me inspiro no mundo,
na vida
Como a vida é bela!

("Porque eu só canto só
E meu canto é minha solidão é minha salvação.
Porque meu canto retira meu lado mau
Porque meu canto é pra quem me ama
É o que me mantêm vivo..." - Cazuza)

sexta-feira, 6 de junho de 2008

A Rosa de Espinhos de Aço


Os dias passam um atrás do outro
Cinco meses perversos me foram tomados
Mas vejo tudo como um sonho distante
Parecem anos, parece que nada aconteceu.
Os outros padecem, a minha mão vos ofereço
Porque suas mudanças dóem e eu sinto como se eu tivesse nascido assim
Me valho dos meus versos – à boca da noite ou do dia, já não importa -
As coisas não feneceram diante dos meus olhos
O sol continua a brilhar em minhas retinas, a rosa não secou
Nem secará jamais.
Me vesti toda em alma, matéria já não sou
E eu realmente sinto como se eu tivesse nascido assim
O passado. Ah, como o passado me parece presente
Talvez seja eterno, não é estático. Revivo.
Se tudo é história não reclamo do advento de novos dias
Dias bons ou maus são dias
e deles eu preciso.
Me alimento de luz e sombra
Sol e lua em movimento fazem crescer assim toda a vida
Eu sou rosa de espinhos de aço
Colho do vento as sementes que ele me traz
Enquanto o poeta canta me contando os novos dias.
As palavras nunca morrem
Os documentos nunca são superados
Os jornais velhos me contam um mundo novo...
Me perdi no tempo e no espaço
Relógio e calendário nada significam a não ser os dias que eu tenho
e parece que eles também me têm
Os dias me são infinitos talvez por isso nunca morrerei.
Mas não posso mentir
Tenho medo
Medo de não superar
Medo dos dias me vencerem
Acabando com a minha ilusão de que tudo me é infinito
E realmente muito me é infinito
Mas não pessoas
Elas murcham como flores na madrugada
Os veios de suas folhas, as veias de sua carne
Em verdade temos medo. Nascemos escuro.¹
Mas esquecemos. O dia perdoa.²





1 O Medo; Carlos Drummond de Andrade; in A rosa do Povo.
2 Onde há pouco falávamos; ibidem.

sábado, 24 de maio de 2008

Ecos

Logo além daquele monte azul onde árvores crescem salpicadas de flores
e bem debaixo daquelas águas verdes onde rolam pedras e descobrem-se cavernas
O som do vento batendo em meu rosto e levando longe os meus pensamentos
bangunça os meus cabelos e os meus sentimentos.
E ninguém chega até lá sem fechar os olhos
e ninguém descobre nada a não ser o que é imenso
e não há nada a dizer a não ser olhar o turvo eco do proprio coração.
Estranhos de mim mesma aparecem diante dos meus olhos ávidos
e o susto que é perceber que todos eles são reais.
E atentar ao que um dia fora sonho
e acordar e contar a vida não por minutos
e desembaçar os raios de sol da manhã.
E ali mesmo eu acabo de nascer
e vejo minha sombra ao lado que pode ser você
e o coração chamuscado pelo sol encontra conforto pela primeira vez.


Agora posso esperar anoitecer
não me amedronta a aproximação das sombras
e nem das pessoas que vou conhecer pelas ruas.
Agora posso voltar para casa, não precisarei de nenhum guia
Estou limpa e minha mente, purificada.
Os olhos voltados para o céu, agora já sei como voar
e o farei para voltar sem pensar em nada com os pés no chão.
Adormecerei com os olhos perdidos no azul profundo
diluída em água todos os meus temores terão remédio
e assim quando eu acordar num dia novo
a luz sempre brilhará para mim
Porque esse dia já me é eterno e estou levando o som do vento em minha bagagem.
E quando encontrar pessoas perdidas agradecerei por saber a verdade
por que muitos tentam e algo me diz que vou encaminhá-los para liberdade
e ninguém saberá como ou porque
andaremos sempre à diante mesmo estivermos parados.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Reflexo dos meus 16 anos



Dos espelhos que em face me acompanham
vejo aqui o rosto de não me pertence
e a alma refletida vidro à frente
suga dos olhos a luz que me esvazia

E das pessoas que em mãos me procuram
deixo aqui os calos da minha vida
e a história dos meus dedos já cortados
não é entendidas pelas frases mal escritas

Vejo a mudança do meu caminho aos meus pés
por chão e céus por vezes tornados água
e minhas pernas fracas que correm atrás do nada
me levam novamente à frente do espelho que roubou minha alma



:: Is the anybody out there? ::

quarta-feira, 14 de maio de 2008

No Insistente Perfume de Alguma Coisa Chamada Amor


"O amor é o ridículo da vida...
A gente procura nele, uma pureza impossível...
Uma pureza que está sempre se pondo...indo embora.
A vida veio e me levou com ela.
Sorte é se abandonar e aceitar essa vaga idéia de paraíso que nos persegue...
Bonita e breve...
Como borboletas que só vivem vinte e quatro horas.
Morrer não dói..." (Cazuza)



Tenho buscado incessantemente um amor.
Primeiro nos outros, depois em mim.
- Viver bem apesar das adversidades -
Tenho seguido isso à risca no meu mundo
Mas há um buraco na minha alma que não consigo preeencher
As pessoas vão e o vazio fica
É falta de amor verdadeiro
Se não for isso, não saberei o que dizer.

Olho para o longe e tento encontrar alguma solução que possa me confortar
Ou apenas uma estrela que olhando me faça sorrir
Olho pro alto, as lágrimas correm por dentro
Me sinto só, e não há o que fazer
Só me resta esperar, fingir que não há nada
Mas vem sempre este buraco, na alma
Que me lembra que algo me falta
Braços abertos, um lugar para recomeçar
Este buraco na minha alma
Ás vezes parece que é inverno
Só um beijo para aquecer meu coração
Não parece, mas é raro.

Tenho procurado em letras de música
Melodias doces, cores misturadas
Eu sonhei com os olhos abertos
O dia em que estivesse preenchido o meu coração
Me sentir flutuando, o doce cheiro da chuva me avisando que é tempo
O coração leve, os olhos fechados, o sentimento...
Flores na janela do meu quarto
Flores em volta de tudo que vejo
Um beijo de amor para me despertar e um sorriso para me fazer dormir

Essa carência que não é de mim mesma.
Essa carência que os ombros amigos não suportam.
O coração cheio de afeto sem ninguém esperando para recebê-lo
A alma cheia de saudade de alguém que ainda não conheceu.

sábado, 10 de maio de 2008

Extraordinário

Eu só lido com o desconhecido.
Pode não ser a coisa mais sensata a fazer e
pode também não ser o mais fácil.
Mas só consigo lidar com o desconhecido.
Com aquilo que os olhos não podem ver.
Eis aqui a palavra, eis a qui o que sou.
Procuro pelo extraordinário.
Pelo fator determinante que traz as grandes mudanças.
Não procuro pelo novo, este não me basta.
O novo se agrega ao velho, as coisas permanecem iguais.
Procuro pela luz na escuridão.
Para trazer um novo ponto de vista, uma nova crítica.
Procuro pelo extraordinário.
Aquilo que traz a mudança.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Monumentos

Por favor não beba esse veneno sozinha
injeção letal de dor
você não tem pq temer o amanhã
Por favor não vá sem me dizer adeus
e espalhar seus pedaçoes pelo caminho pra saber como voltar
O que mais eu posso dizer?
Sei que há algo de bom em mim
as palavras não dizem a verdade
é preciso enxergar dentro de quem as diz

Não me diga que é muito tarde
e que todos agem assim
quando todos pensam igual
é porque ninguém pensou nada
Não se massifique assim
não se perca pela multidão
o coração de quem ama não se fecha por qualquer arranhão

Deite este livro de terror fora
não se esconda atras de uma moda
o tempo passa e as mascaras caem
o tempo diz quem somos nós
Não torne suas mentiras verdade
a memória é o que vai restar de nós
os monumentos podem cair se forem ocos por dentro
sem seus rótulos será que você sobreviverá?

quarta-feira, 30 de abril de 2008

A Quebra.

O mundo está cheio de fraturas expostas, mas os olhos alheios parecem não querer enxergar.
Há alguns poucos. Há eu mesma.
Eu vejo essas fraturas. É delas que o mundo é feito.
Muros altos que, em fendas, se diferenciam um dos outros.
Fraturas que sangram, abertas, esperando que alguém as enxerguem.
Elas são feitas para serem vistas
seu sangue jorrante banhando o dia-a-dia inerte.
Todos nós somos um pouco de fratura.
Andamos nas ruas sob o sol expondo-as como um chamado à conversa, as perguntas.
Mas poucos são os que perguntam. Poucos realmente dizem.
E as fraturas passam despercebidas.
Alguns já se acostumaram a elas, sem saberem o quanto são necessárias.
Outros têm medo de olhá-las e sentir das suas a dor latejante.
E existem outros raros seres que as olham e retornam para suas cicatrizes.
Lembram do sangue que já se perdeu mas ainda é vivo
e bebem da seiva que o mundo lhes oferece.

Presta atenção. Olha bem. Reconheça essas fraturas, pelo menos as suas. Me digam para que elas te servem.
E se o fardo for pesado demais...Os cortes, estes são passageiros...O que fará, então, com as marcas?

Os Ombros Suportam o Mundo - Carlos Drummond de Andrade

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundoe ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.


Os versos acima foram publicados originalmente no livro "Sentimento do Mundo", Irmãos Pongetti - Rio de Janeiro, 1940.

sábado, 26 de abril de 2008

Quase Tudo Nessa Vida é Simples

Alguns chamam de Deus outros de sorte, mas o que eu sei é que tudo mudou.
A minha vida já mudou de sentido, mudou o caminho que eu ousava escolher.
As flores já não têm o mesmo perfume e o sol brilha muito mais
Aquilo tudo que eu achava pequeno se tornou forte.
Eu, que me achava pequena, me mostrei forte.
E vejo muito mais claro agora
cada palavra tem vida sozinha
a nossa mente é forte o bastante pra vencer a morte
parece mesmo brincadeira, mas é fácil sucumbir à dor.
Mas o que eu quero é de qualquer maneira aprender com as minhas memórias.
Isso ninguém pode tirar de mim, o futuro me aguarda de braços abertos.
Eu não ouso cantar vitória. Prefiro cantar belas canções, sonhadoras canções.
A vitória finda o sonho e eu não procuro resultados. Não caminho para um fim. Caminho para curtir a estrada, apreciar o vento e cada cor que o sol inventa.
Isto é o que eu tenho a falar
que o mundo nunca está igual
Ás vezes é preciso parar de correr para viver de verdade.
Isso eu posso provar.
Está na cara de quem quizer ver.
Está estampado no fundo dos meus olhos, é só prestar atenção.
Pode olhar, eu não vou desviar.
Eu não vou esconder nenhum gesto, nenhuma fotografia. Porque eu posso me orgulhar, mas não vou cantar vantagem.
Um passo e você não está mais no mesmo lugar1.
Isto é o que eu tenho a falar.
O mundo nunca está igual.
Ás vezes é preciso parar de correr para viver de verdade.



1: Chico Science.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Isso tem explicação.

Não sou mais uma vampira
nem me transformei numa estátua de sal
sigo em frente pelos meus proprios caminhos
tenho a mim, já não estou mais sozinha
o mundo ao meu redor me traz inspiração
eu olho pra trás, já não me faz mal
- lembranças, histórias, cicatrizes -
já não doem mais, me lembram que eu estou viva

Fórmulas mágicas, obras de arte
analise seus efeitos sobre você
meu discurso poético é insano
mas é o que melhor posso fazer
assonancias sutis que buscam o oculto
prometo crescer, talvez até enlouquecer
porém o que me salva é o meu passado
que me impede esquecer porque eu cheguei até aqui


As cores da cidade são tão belas
mas os outros enxergam tudo tão cinza
como delicioso rugido do tempo
como a raiva de amar ou um palhaço que grita
surge um vão de luz brilhante
- harmonia -
será que vc não consegue entender?


Os seus olhos me fazem seguir em frente
de mão dadas com o passado
rumando ao futuro novamente
ruas escuras industriais
não me amedronta andar pelas engrenagens
cíclicas paisagens
a liberdade traz a incerteza da verdade